segunda-feira, 7 de março de 2011

Bruna Surfistinha

Bruna Surfistinha
Diretor: Marcus Baldini
Elenco: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes, Critina Lago, Fabiula Nascimento.
Escrito por: José de Carvalho, Homero Olivetto e Antônia Pellegrino.
Nota no IMDb: 6.1





O fim-de-semana de estreia de "Bruna Surfistinha" nos cinemas levou o filme à segunda melhor bilheteria do ano para os primeiros dias em cartaz (considerando também filmes americanos). 400 mil pessoas assistiram ao longa de Marcus Baldini nos três primeiros dias, representando um marco no cinema nacional. Principalmente se for levado em conta que a produção já tem a sétima melhor bilheteria da Retomada do cinema brasileiro (a partir do fim dos anos 90), mesmo sem a chancela da Globo Filmes. Talvez uma das únicas bilheterias de sucesso sem o apoio de mídia da Globo Filmes, que costuma garantir o sucesso de muitas produções. 

À parte questões empresariais, se você já conhece a história de Raquel Pacheco, menina de classe média que larga a vida na casa dos pais para ganhar dinheiro como garota de programa, não vai se surpreender muito com o filme. Principalmente se já tiver lido o "Doce Veneno do Escorpião", livro biográfico escrito pela protagonista em 2005,  com o jornalista Jorge Tarquini, no qual detalha razões para suas escolhas e o contato com diversos clientes. Está tudo ali: a indiferença com a família adotiva - principalmente com o pai e o irmão -, a falta de amigos e de interesse na escola - e conflitos nos primeiros contatos com a sexualidade -, a decisão de virar garota de programa durante uma busca por emprego e a dificuldade para se habituar à profissão. 



Deborah Secco, no papel de Bruna, nome adotado por Raquel - que mais tarde ganharia a outra alcunha por ser a Bruna, "aquela que parece uma surfistinha", manda no filme. Todas as atenções estão voltadas para ela o tempo todo, e a atriz se sente bastante à vontade com isto. Mesmo em cenas constantes de nudez e sexo, a Deborah demonstra confiança e segurança para conduzir o papel. Até em cenas mais fortes, quando a garota exagera nas drogas, Deborah sabe transitar neste universo e não deixa o ritmo do filme cair. Atuação muito firme. 

O objetivo é o mesmo de qualquer garota que se prostitui – ganhar dinheiro. Mas, por nunca ter passado fome, por ter sido garota de classe média a abandonar o conforto da casa dos pais para fazer programas, há um interesse das outras mulheres por entender os motivos de Bruna e uma vontade de clientes por conhecê-la. Com a fama que conquista no meio, faz um blog que vira febre na internet. Ao comentar a atuação dos homens e expor seus pensamentos, revela que uma garota de programa, afinal, tem expressões próprias e sabe, também, ouvir quem a paga. Boa parte dos que a procuram só querem atenção: não só sexual, mas como fuga da vida que levam.



Para quem pensa em Bruna Surfistinha como um caso limite, de uma garota que largou tudo para viver de sexo por prazer ao que fazia, o filme desmascara essa visão. Ela está lá por dinheiro. Claro que teria oportunidades na vida que suas colegas mais pobres nem sonhariam, mas a expectativa por ganhar dinheiro rápido a fez tomar tal decisão. E mantê-la a qualquer custo. As garotas com quem convivia faziam questão de dizer que, à parte os motivos que as levaram para a prostituição, teriam outras profissões logo que pudessem largar a sobrevivência pelo sexo. A decadência de Bruna acompanha a trajetória com as drogas, em especial, a cocaína. Todo o dinheiro ganho se esvai com dividas em compras luxuosas e com o pó, numa realidade bem conhecida nos grandes centros.

A degradação moral é escancarada em cada cena – não no sentido moralista da questão, mas na exposição a condições adversas e à perda da intimidade a que mulheres se sujeitam em busca de um sustento – mas não é explorada pela personagem. Tudo é tratado com bastante naturalidade, mesmo em momentos críticos que gerariam questionamentos sobre suas escolhas. A visão do filme – condizente com a do livro - não carrega este conflito; sua decisão já foi feita e Bruna deveria ir até o fim. Ou até quando quisesse parar, abandonar o personagem e começar uma nova vida, uma nova Raquel, anos depois. Todo mundo sabe que isso foi feito e, a obra conta, em parte, quais caminhos ela traçou. 


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