Como expliquei no último post, publiquei esta resenha originalmente em abril de 2010, no site da Associação Brasileira de Psiquiatria e resolvi divulgá-lo agora aqui no blog.
‘Chico Xavier'
Brasil/2010
Diretor: Daniel Filho.
Elenco: Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Matheus Costa, Kássia Kiss.
Roteiro de Marcos Bernstein.
Nota no IMDb: 7,0.
Dedicação de uma vida
“Chico Xavier”, a cinebiografia do mais conhecido médium brasileiro, estreou em 2 de abril – centenário de nascimento de Chico – como a maior bilheteria do cinema nacional desde 1995, levando 590 mil pessoas às salas do país só no primeiro fim-de-semana. 70 anos de dedicação às pessoas, 412 livros psicografados, cerca de 30 milhões de exemplares vendidos, renda totalmente revertida a projetos assistenciais. A história é fartamente conhecida, daí a dificuldade em se filmar algo que, aparentemente, não irá trazer surpresas. Nélson Xavier, Toni Ramos, Ângelo Antônio, Letícia Sabatella. Tendo à mão um elenco renomado da televisão, Daniel Filho, diretor conhecido por novelas e filmes românticos, soube conduzir o roteiro de modo a revelar, com simplicidade e sem atropelos, os passos de Chico Xavier: das primeiras manifestações mediúnicas em Pedro Leopoldo/MG, o descrédito da população, o processo de compreensão e aprendizado à condição de líder espiritual em Uberaba, no triângulo mineiro.
Nélson Xavier, intérprete de Chico na maturidade, afirmou em diversas entrevistas que podia “sentir uma emoção arrebatadora” durante as filmagens, e que inclusive conseguiu “sentir a presença de Chico, num turbilhão de emoções”. O ator, ateu, descreveu a transformação provocada pela obra. De indiferente, passou a “respeitar a espiritualidade e acreditar”. Daniel Filho também destacou, em coletivas, a grande emoção que todos sentiam nos sets.
Obra cativante para os que creem, difícil de ser compreendida por quem não se interessa por filmes com temática religiosa – ou que esnobam filmes realizados por equipes de televisão. Mas, se deixar o preconceito com uma pipoca fora da sala, é possível enxergar os méritos cinematográficos da película que revela um ritmo forte sem parecer excessivamente dramático, com fotografia consciente – como na cena do colírio, que abre o filme - e atuações convincentes. Só para registro: Não há “fantasmas” nem “visões” no filme. Ao contrário de filmes de suspense que deturpam a temática espírita, Daniel Filho teve maturidade suficiente para apresentar um homem em descoberta da mediunidade sem atropelos, sensacionalismos nem “vozes” ou “mentes” atormentadas. Por isso é simples, mas caloroso.
É difícil discutir, em termos morais, tema que suscita tantas paixões. Mas é admirável conhecer um homem de fé inabalável ante a tantas dificuldades, que defendeu o ser humano e a caridade sem aceitar nada em troca, que apresentou sua crença sem forçá-la a ninguém nem empurrá-la como o caminho mais correto. Apenas pregou valores universais aplicados a práticas individuais – de Jesus Cristo à casa de cada um. É desconcertante saber de detalhes da vida de alguém que Chico nunca conhecera; ou de mensagens psicografadas em outra língua por alguém que só falava o português.
Chico falava que, pela informação de seu guia Emmanuel, partiria desta vida em um dia em que o povo brasileiro estivesse feliz. Isso ocorreu em 30 de junho de 2002. Data em que o Brasil conquistou o Penta.
“As doutrinas religiosas (...) foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de concórdia humana. Os seus males provêm justamente dos abusos do homem, em amoldá-las ao abismo de suas materialidades habituais” (Chico Xavier).
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