'O Livro de Eli' (The Book of Eli)
EUA/2010
Diretores: Albert e Allen Hughes
Elenco: Denzel Washington, Mila Kunis, Ray Stevenson.
Roteiro de Garay Whitta.
Nota no IMDb: 6,9.
Em defesa da Palavra
“O Livro de Eli” (The Book of Eli), protagonizado e produzido por Denzel Washington, apresenta um planeta Terra devastado por uma guerra após a exaustão dos recursos naturais, sem qualquer organização social ou moral. Num cenário de luta pela sobrevivência, o espectador é apresentado a Eli (Washington), um dos poucos que não sucumbiram ao colapso do Planeta. Sua missão é rumar, por instinto, para o Oeste, com uma Bíblia na mochila – o único exemplar do Livro Sagrado ainda existente.
Eli deve esconder o Livro de Carnegie (Gary Oldman), que deseja usá-lo para sujeitar a humanidade ao seu poder – “como já aconteceu”, diz o vilão, a certa altura. Trava-se, então, a disputa entre salvação e dominação, por causa do intento de quem detém a Bíblia: a vontade de transmitir abertamente o conhecimento e ensinar palavras de conforto e transcendência, contra a intenção de escravizar quem não a conhece.
Os irmãos Hughes, realizadores do “Livro de Eli”, entretanto, escorregam ao sedimentar a história em superpoderes dos personagens. Eli ganha, com um facão, duelos contra gangues armadas. Não há nenhum recurso natural no Planeta, mas não falta munição pesada e combustível para os carros das gangues. Em um cenário onde a água é buscada em minas, essas situações soam irreais. “Acho difícil levar o filme a sério, pois a Bíblia dá apenas uma aura de espiritualidade que o filme não tem. O que interessou mais aos realizadores foi dar um show de violência e cenas com destrutividade”, pondera o psicanalista e crítico de cinema Luiz Gallego. “A ideia de se usar o poder da religião para a dominação da humanidade, por causa de um homem que quer o poder absoluto daria um bom enredo, se fosse desenvolvida”, acredita.
Ainda assim, é possível assistir ao filme “descontando” o exagero de efeitos e combates armados, e focar no conflito pelo Livro Sagrado. Como, por exemplo, nas cenas em que Eli ensina orações a Solara (Mila Kunis), que nunca ouvira falar da Bíblia. Quando ele recita o Salmo 22 (“O Senhor é meu Pastor, nada me faltará (...). Restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva (...). Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo”), pode-se pensar na força dessas palavras para quem enfrenta dificuldades, como no contexto da história.
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