terça-feira, 28 de junho de 2011

Meia Noite em Paris (2011)


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris)
Direção: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Rachel Adams, Kathy Bates, Marion Cotilard, Carla Bruni
Escrito por: Woody Allen
EUA, 2011
Nota no IMDb: 8.1






"Meia Noite em Paris" (2011) traz um Woody Allen inspirado no roteiro e na direção, sem qualquer participação em frente às câmeras. Owen Wilson é Gil Pender, roteirista de sucesso que não consegue êxito ao escrever literatura. Ele está prestes a se casar com Inez (Rachel McAdams) e a viagem do casal a Paris subitamente o inspira, ao experimentar situações que o levam ao sentido de sua escrita e à visão de mundo romantizada do passado que o acompanha.





Com bilheterias em torno dos U$ 25 milhões, já está entre os três mais assistidos da carreira do diretor - junto de Match Point (2005) e Vicky, Cristina, Barcelona (2008), comprovando o interesse que o cinema de Allen ainda desperta. Estima-se que as cifras superem os U$ 40 milhões de "Hannah e suas Irmãs" (1986), o mais assistido de sua filmografia até hoje. 





O próprio Allen parrece ter se cansado do arquétipo de anti-heroi que costumava protagonizar e passou a direcionar as lentes para outros olhares e menos para o próprio ego. Após algumas bolas-fora nos anos 90 e 2000 - como Os Trapaceiros (2000), Igual a Tudo na Vida (2003) e Melinda e Melinda (2005), Allen conseguiu renovar seu cinema ao permanecer atrás das câmeras e trocar abstrações existenciais porconflitos clássicos - apoiado em locações europeias. 





Nova York está impregnada do estilo que o consagrou, por isso recorreu ao Velho Mundo para transmitir em bons capítulos sua visão particular sobre a arte. Não por acaso, levou Dostoievski para a Inglaterra com o romance Crime e Castigo traduzido no vigoroso e exuberante Match Point (2005). No sincero mas menos atraente Scoop (2006), Allen mostrou que a inspiração não se esgotou com o anterior. Na Espanha, tentou recriar um romance latino em "Vicky, Cristina, Barcelona" (2008), mas o que era para ser o auge da trilogia tornou-se um capítulo fora de lugar, com narração desnecessária, enredo previsível e atores sem conexão - ainda que sejam Penélope Cruz, Scarlett Johansson e Javier Bardem. 

Eis que Allen retoma o diálogo na França, com "Meia Noite em Paris" num tributo à cidade Luz digno de comparação com "Manhattan" (1979). Mais que isso: uma homenagem em tons modernos e surrealistas à arte, que prescinde qualquer divisão. A sensação de que uma época anterior teria sido mais interessante é desmascarada pelo diretor de modo simples e convincente. Incrivelmente, não estão presentes o pessimismo e o absurdo ante o mistério da existência característicos de seus filmes e vemos apenas alguém que prefere apreciar a obra por seu vigor intrínseco, reforçado pelo contato com gente como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald e Pablo Picasso. 





"Meia Noite em Paris" (2011) é um projeto imperdível para quem espera um filme artístico com leveza e um filme divertido mas sem concessões. A cereja do bolo fica por conta das críticas a um certo intelectualismo esnobe, arrogante e falsamente educado, presente em tantos meios que acompanham o meio erudito e tanto atrapalha o acesso à arte e sua compreensão. 




Um Woody Allen de raro humor, que soube se reinventar em território inédito e demostra mais uma vez a força de seu cinema após 45 anos de carreira. 75 de idade e 44 filmes depois, Woody Allen comprova como a maturidade pode aprimorar uma obra e não esgotar o percurso. 

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