Histórias Cruzadas (The Help)
Direção: Tate Taylor
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Mike Vogel
Escrito por: Tate Taylor, baseado em livro de Kathryn Stockett
EUA, 2011
O racismo incutido em uma sociedade em determinada época soa tão 'natural' para quem a vive quanto parece absurdo para os que observam em outro tempo. Por isso, tantos risos irônicos da plateia quando personagens de "Histórias Cruzadas" (The Help, 2011) defendem a separação de banheiros entre negros e brancos. O filme do diretor Tate Taylor vai levar muita gente ao cinema simplesmente por ter sido indicado quatro vezes ao Oscar - melhor filme, melhor atriz (Viola Davis) e melhor atriz coadjuvante (Jessica Chastain e Octavia Spencer). Spencer, inclusive, venceu o Globo de Ouro por sua atuação como atriz coadjuvante.
O diretor se baseia no livro "A Resposta", de Kathryn Stockett (amiga de Taylor) para apresentar uma nuance da segregação racial na América, amparada por leis e costumes que perduraram, oficialmente, até os anos 1970. Aqui, tem-se o ponto de vista das empregadas domésticas, acostumadas a criar e a educar crianças brancas que, quando crescidas, relegavam as amas ao seu papel servil em nome da manutenção de um 'status social'.
A jornalista e aspirante a escritora Skeeter (Stone) decide dar voz aos abusos cometidos contra as trabalhadoras e recebe a ajuda clandestina de Aibileen (Davis) e Minny (Spencer). O papel de Hilly (Dallas), presidente da liga das mulheres de Jackson, Mississippi - um dos últimos estados do sul a retirar itens racistas de suas leis - apesar de bastante caricato, expõe o racismo 'naturalizado' - inclusive na menção do baile beneficente para crianças africanas.
A narrativa é leve, apesar do tema -o que levou críticos de cinema a tratar "Histórias cruzadas" como leviano e superficial -, linear e bem pontuada. A ambientação e o ritmo - além da temática - lembram o clássico "Conduzindo miss Daisy", de 1989. O uso de clichês em cenas-chave podia facilmente ter sido evitado, assim como a divisão entre patrões-vilões e empregados-espertos. Em sua defesa, Taylor tem a forma como a invisibilidade dos funcionários é apresentada, assim como a forte e convincente atuação de Viola Davis - merecedora, de fato, do Oscar.
Algumas questões para o roteiro: Celia (Chastain) é a personagem dissonante, por ter se casado com Johnny (Vogel), que era 'destinado' às mulheres 'da sociedade'. Por quê seus hábitos não condizem com os das outras? Ela foi criada em outro meio? Algum sentimento em especial a move? Ou o que explicaria esta postura deslocada? Outra: Skeeter teria atitudes humanistas por ter estudado em outro estado? Ou porque é uma das únicas a trabalhar fora de casa? Por ser 'aceita' na liga das mulheres de Jackson, nunca havia questionado seus métodos?
A equipe de tradução podia ter se empenhado para traduzir "the help" com mais qualidade. "A resposta" é tão ridículo que incomodou até os mais desavisados nas três ou quatro aparições da legenda durante a exibição. Apesar da grave falha, "Histórias cruzadas" é um título que diz mais sobre o filme que o próprio original.
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