segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Os Descendentes (2011)

Os Descendentes (The Descendants)
Direção: Alexander Payne 
Elenco: George Clooney, Shailene Woodley, Amara Miller, Nick Krause, Patricia Hastie, Beau Bridges
Escrito por: Alexander Payne, Nat Faxo e Jim Rash, baseado em livro de Kaui Hart Hemmings 
EUA, 2011
Nota no IMdB: 7,7



O Havaí, locação comum em filmes sobre esportes, comédias de férias ou documentários em paisagens paradisíacas, é quase um personagem de "Os Descendentes", um dos favoritos ao Oscar e vencedor do Globo de Ouro em duas categorias (melhor filme de drama e melhor ator - George Clooney). Apesar da participação de destaque, o estado americano serve de contraponto para a angústia que permeia a vida de um homem, que tenta diminuir a distância afetiva para as filhas quando a esposa entra em coma por causa de um acidente. 



Como defende o protagonista logo no início, as dores do povo havaiano não são menores que a dos outros humanos por morarem em recantos de natureza privilegiada. Eles compartilham as mesmas cotas de dúvida, defeitos e dor com os demais, assim como carregam cargas de esperança, sonhos e superação semelhantes. 



Matt King (Clooney) é um advogado pacato, contido, quase resignado e, tal qual o costume contemporâneo, pouca atenção havia dedicado à esposa e às filhas nos últimos anos. Em certa altura de "Os Descendentes", o milionário havaiano revela seguir uma frase ouvida tempos antes: "Dê todo o dinheiro aos filhos para fazerem o que quiserem, mas não para não fazer nada". Assim explica a contenção no trato de sua fortuna, apesar da vida confortável. 



Elizabeth (Hastie), mulher de King, está em coma após um acidente de barco. Ela tem o perfil construído por falas da família e amigos, e por eles conhecemos seu interesse por esportes e adrenalina, assim como podemos antecipar o que deve ter sentido em determinados momentos anteriores à trama e justificar suas atitudes. Mas apenas prevê-los, apesar da riqueza de detalhes disponíveis para construir sua participação na trama. Estratégia curiosa para uma personagem que, apesar dos julgamentos, não pode se defender. 



Alexandra (Woodley) filha mais velha do casal, é uma adolescente de 17 anos que conhece bem os limites a ponto de fazer questão de desafiá-los. A rebeldia em potencial se transforma em bom senso quando ela precisa ajudar King a cuidar da caçula Scottie (Miller). No percurso, tem a companhia do amigo Sid (Krause) um personagem deslocado no começo da trama, e que em seu desenvolvimento só faz reforçar a ideia de que as novas gerações não são muito habituadas a convenções sociais. A ironia é uma face da relação entre os jovens e a inclusão de King neste novo "meio", e, com as risadas provocadas na sala do cinema, parece que nem todos assistem ao mesmo filme. 



A melhor participação de Sid se dá quando Matt o pergunta se ele e Alexandra conversam sobre seus problemas. O garoto afirma que não, apesar da proximidade entre os jovens; apenas tentam se divertir juntos para esquecer-se das adversidades. Um método escapista discutível, mas revelador sobre o comportamento de uma geração.



Quando Matt King, apesar do conflito em casa, tem poderes para decidir uma operação empresarial entre primos - são herdeiros de uma grande área preservada na ilha - temos o vínculo do homem com a terra e a tradição familiar, apesar dos rumos dissidentes dentro no lar. Prova disso são as tomadas frequentes em retratos de sua genealogia e a lembrança de nomes e títulos de antigos parentes, num contraste bem armado com sua falta de prestígio na própria casa.



"Os Descendentes" não vai marcar época, não traz inovações de estilo nem conta uma história sensacional. Talvez nem mereça a indicação no Oscar em algumas das principais categorias - filme, diretor, ator (Clooney), roteiro adaptado e montagem. Mas é um filme sincero, com roteiro sem grandes atropelos e boa condução da direção de fotografia. E, ainda, atuações convincentes de Clooney e a estreante Shailene Woodley. 


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