terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Indicados ao Oscar 2011

E começa oficialmente a disputa pelo Oscar 2011. A Academia divulgou nesta terça os indicados ao prêmio, que guarda a boa surpresa de um brasileiro entre os melhores documentários. O favorito deste ano é "O discurso do Rei", produção britânica que concorre em 12 categorias - Melhor Filme, Diretor (Tom Hooper) e Ator (Colin Firth). "Bravura Indômita", dos irmãos Cohen, ficou com dez indicações, e "A Rede Social" (Social Network) e "A Origem" têm chances em oito categorias.


A boa notícia para o Brasil fica a cargo do documentário "Lixo Extraordinário", dirigido por João Jardim, Lucy Walker e Karen Harley, numa cooprodução Brasil/Inglaterra. O documentário foca o trabalho do artista plástico Vik Muniz com trabalhadores no lixão de Gramacho, em Duque de Caxias/RJ, considerado o maior da América Latina. "Lixo Extraordinário" está em cartaz em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo desde 21 de janeiro.



Em comparação com o Globo de Ouro, alguns títulos se repetem: "O Discurso do Rei" também foi o mais indicado, mas "A Rede Social" foi o grande vitorioso, ao ser escolhido como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora Original. Colin Firth ficou com o prêmio de Melhor Ator, Natalie Portman recebeu o Globo de Melhor Atriz e "O Vencedor" emplacou melhor atriz e ator coadjuvantes. 

O Oscar será realizado dia 27 de fevereiro de 2011, em Los Angeles.
Indicados em todas as categorias:
Melhor filme:
* A rede Social (Social Network)
* O discurso do Rei (The King's Speech)
* Cisne Negro (Black Swan)
* O vencedor (The Fighter)
* A origem ( Inception)
* Toy Story 3
* Bravura Indômita (True Grit)
* Minhas mães e meu pai (The Kids Are All Right)
* 127 horas (127 Hours)
* Inverno da Alma (Winter´s Boné)

Melhor diretor:

* David Fincher – “A rede social”

* Tom Hooper – “O discurso do rei”
* Darren Aronofsky – “Cisne negro”
* Joel e Ethan Coen – “Bravura indômita”
* David O. Russell – “O vencedor”


Melhor ator:
* Jesse Eisenberg – “A rede social”
* Colin Firth – “O discurso do rei”
* James Franco – “127 horas”
* Jeff Bridges – “Bravura indômita”
* Javier Bardem – “Biutiful”


Melhor atriz:
* Annette Bening – “Minhas mães e meu pai”
* Natalie Portman – “Cisne negro”
* Nicole Kidman - “Rabbit hole”
* Michelle Williams - “Blue valentine”
* Jennifer Lawrence - “Inverno da alma”

Melhor ator coadjuvante:
- Mark Ruffalo – “Minhas mães e meu pai”
- Geoffrey Rush – “O discurso do rei”
- Christian Bale – “O vencedor”
- Jeremy Renner – “Atração perigosa”
- John Hawkes – "Inverno da alma"

Melhor atriz coadjuvante:
- Helena Bonham Carter – “O discurso do rei”
- Melissa Leo – “O vencedor”
- Amy Adams – “O vencedor”
- Hailee Steinfeld – “Bravura indômita”
- Jacki Weaver - “Reino animal”

Melhor roteiro original:
* “Cisne negro”
* “Minhas mães e meu pai”
* “O vencedor”
* “A origem”
* “O discurso do rei”

Melhor roteiro adaptado:
* “A rede social”
* “127 horas”
* “Bravura indômita”
* “Toy Story 3”
* "Inverno da alma"

Melhor longa-metragem de animação:
- "Como treinar o seu dragão"
- "O mágico"
- "Toy Story 3"

Melhor direção de arte:
- "Alice no País das Maravilhas"
- "Harry Potter e as relíquias da morte - Parte 1"
- "A origem"
- "O discurso do rei"
- "Bravura indômita"

Melhor fotografia
- "Cisne negro"
- "A origem"
- "O discurso do rei"
- "A rede social"
- "Bravura indômita"

Melhor figurino
- "Alice no País das Maravilhas"
- "I am love"
- "O discurso do rei"
- "Bravura indômita"
- "The tempest"

Melhor documentário (longa-metragem)
- "Exit through the gift shop"
- "Gasland"
- "Inside job"
- "Restrepo"
- "Lixo extraordinário"

Melhor documentário (curta-metragem)
- "Killing in the name"
- "Poster girl"
- "Strangers no more"
- "Sun come up"
- "The warriors of Qiugang"

Melhor edição
- "Cisne negro"
- "O vencedor"
- "O discurso do rei"
- "127 horas"
- "A rede social"

Melhor filme de língua estrangeira
* "Biutiful"(México)
* "Dogtooth" (Grécia)
* "In a better world" (Dinamarca)
* "Incendies" (Canadá)
* "Outside the law" (Argélia)

Melhor trilha sonora original-
* "Como treinar seu dragão" -  John Powell
* "A origem" - Hans Zimmer
* "O discurso do rei" - Alexandre Desplat
* "127 horas" - A.R. Rahman
* "A rede social" - Trent Reznor e Atticus Ross

Melhor canção original
- "Coming home", de "Country Strong"
- "I see the light", de "Enrolados"
- "If I rise", de "127 horas"
- "We belong together", de "Toy Story 3"

Melhor curta-metragem
- "The confession"
- "The crush"
- "God of love"
- "Na wewe"
- "Wish 143"

Melhor curta-metragem de animação
- "Day & night"
- "The gruffalo"
- "Let's pollute"
- "The lost thing"
- "Madagascar, carnet de voyage"

Melhor edição de som
- "A origem"
- "Toy Story 3"
- "Tron: o legado"
- "Bravura indômita"
- "Incontrolável"

Melhor mixagem de som
- "A origem"
- "O discurso do rei"
- "Salt"
- "A rede social"
- "Bravura indômita"

Melhores efeitos visuais
- "Alice no País das Maravilhas"
- Harry Potter e as relíquias da morte - Parte 1"
- "Além da vida"
- "A origem"
- "O Homem de Ferro 2"

Melhor maquiagem
- "Minha versão para o amor"
- "Caminho da liberdade"
- "O lobisomem"

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nick and Norah

Uma Noite de Amor e Música / Nick and Norah Infinite´s Playlist.
Diretor: Peter Sollett
Elenco: Michael Cera, Kat Dennings, Aaaron Yoo
EUA/2008
Nota no IMDB: 6.8



O canadense Michael Cera tem escolhido bem os papéis que representa no cinema. Para um ator de 22 anos acostumado às séries de TV, mas que teve o primeiro papel de destaque no cinema só em 2007 - com Superbad, tem a competência – ou talvez a sorte – de escolher ou ser escolhido para roteiros bem conduzidos, ainda que discretos. Sua participação em Juno (2007) foi a mais representativa até aqui, e sobram méritos para o protagonista vencedor do melhor roteiro original no Oscar de 2009.

Construção do roteiro discreta e eficiente, enredo baseado na cultura jovem e na cena musical urbana. Essa é a ambientação de Nick and Norah Infinite´s Playlist (2008), traduzido no Brasil como Uma Noite de Amor e Música. Cera é Nick, baixista de uma banda de um sub-estilo core qualquer que não vive bons momentos após o término com Tris, interpretada por Alexis Dziena. Em um de seus shows, a ex e Norah estão na plateia, e um acaso acaba comprometendo os três. A partir daí, a comédia romântica se desenrola em apenas uma noite.



Uma noite para dois desconhecidos trocarem afinidades, desentendimentos, preocupações e muitas descobertas. Um filme sobre uma noite na vida de jovens adultos que aprendem com suas escolhas e experimentam sentimentos às vezes conflituosos. Uma noite para amigos compartilharem a lealdade que os une, ainda que julgados e estereotipados por quem está de fora.

Com boa condução da trilha sonora – destaque para os pouco conhecidos Shout Out Louds – “Very Loud”, Marching Band – “Trust your Stomach”, Army Navy – “Slivery Sleds” e Takka Takka – “Fever”, os produtores ajudam a criar um universo verossímil e condizente com o ambiente que é mostrado. Boa escolha em DVD para uma noite qualquer.


terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Chico Xavier

Como expliquei no último post, publiquei esta resenha originalmente em abril de 2010, no site da Associação Brasileira de Psiquiatria e resolvi divulgá-lo agora aqui no blog. 

‘Chico Xavier'
Brasil/2010
Diretor: Daniel Filho.
Elenco: Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Matheus Costa, Kássia Kiss. 
Roteiro de Marcos Bernstein.
Nota no IMDb: 7,0.



Dedicação de uma vida

“Chico Xavier”, a cinebiografia do mais conhecido médium brasileiro, estreou em 2 de abril – centenário de nascimento de Chico – como a maior bilheteria do cinema nacional desde 1995, levando 590 mil pessoas às salas do país só no primeiro fim-de-semana. 70 anos de dedicação às pessoas, 412 livros psicografados, cerca de 30 milhões de exemplares vendidos, renda totalmente revertida a projetos assistenciais. A história é fartamente conhecida, daí a dificuldade em se filmar algo que, aparentemente, não irá trazer surpresas. Nélson Xavier, Toni Ramos, Ângelo Antônio, Letícia Sabatella. Tendo à mão um elenco renomado da televisão, Daniel Filho, diretor conhecido por novelas e filmes românticos, soube conduzir o roteiro de modo a revelar, com simplicidade e sem atropelos, os passos de Chico Xavier: das primeiras manifestações mediúnicas em Pedro Leopoldo/MG, o descrédito da população, o processo de compreensão e aprendizado à condição de líder espiritual em Uberaba, no triângulo mineiro. 

Nélson Xavier, intérprete de Chico na maturidade, afirmou em diversas entrevistas que podia “sentir uma emoção arrebatadora” durante as filmagens, e que inclusive conseguiu “sentir a presença de Chico, num turbilhão de emoções”. O ator, ateu, descreveu a transformação provocada pela obra. De indiferente, passou a “respeitar a espiritualidade e acreditar”. Daniel Filho também destacou, em coletivas, a grande emoção que todos sentiam nos sets.



Obra cativante para os que creem, difícil de ser compreendida por quem não se interessa por filmes com temática religiosa – ou que esnobam filmes realizados por equipes de televisão. Mas, se deixar o preconceito com uma pipoca fora da sala, é possível enxergar os méritos cinematográficos da película que revela um ritmo forte sem parecer excessivamente dramático, com fotografia consciente – como na cena do colírio, que abre o filme - e atuações convincentes. Só para registro: Não há “fantasmas” nem “visões” no filme. Ao contrário de filmes de suspense que deturpam a temática espírita, Daniel Filho teve maturidade suficiente para apresentar um homem em descoberta da mediunidade sem atropelos, sensacionalismos nem “vozes” ou “mentes” atormentadas. Por isso é simples, mas caloroso. 

É difícil discutir, em termos morais, tema que suscita tantas paixões. Mas é admirável conhecer um homem de fé inabalável ante a tantas dificuldades, que defendeu o ser humano e a caridade sem aceitar nada em troca, que apresentou sua crença sem forçá-la a ninguém nem empurrá-la como o caminho mais correto. Apenas pregou valores universais aplicados a práticas individuais – de Jesus Cristo à casa de cada um. É desconcertante saber de detalhes da vida de alguém que Chico nunca conhecera; ou de mensagens psicografadas em outra língua por alguém que só falava o português. 

Chico falava que, pela informação de seu guia Emmanuel, partiria desta vida em um dia em que o povo brasileiro estivesse feliz. Isso ocorreu em 30 de junho de 2002. Data em que o Brasil conquistou o Penta. 

“As doutrinas religiosas (...) foram chamadas a desempenhar a missão de paz e de concórdia humana. Os seus males provêm justamente dos abusos do homem, em amoldá-las ao abismo de suas materialidades habituais” (Chico Xavier).


domingo, 16 de janeiro de 2011

O Livro de Eli

Publiquei esta resenha no site da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em abril de 2010. O link original está disponível aqui. Segue o texto, divido aqui em dois posts, em que analiso o tema da espiritualidade no cinema a partir dos filmes "O Livro de Eli" e "Chico Xavier".





'O Livro de Eli' (The Book of Eli)
EUA/2010
Diretores: Albert e Allen Hughes
Elenco: Denzel Washington, Mila Kunis, Ray Stevenson.
Roteiro de Garay Whitta.
Nota no IMDb: 6,9.



Em defesa da Palavra


“O Livro de Eli” (The Book of Eli), protagonizado e produzido por Denzel Washington, apresenta um planeta Terra devastado por uma guerra após a exaustão dos recursos naturais, sem qualquer organização social ou moral. Num cenário de luta pela sobrevivência, o espectador é apresentado a Eli (Washington), um dos poucos que não sucumbiram ao colapso do Planeta. Sua missão é rumar, por instinto, para o Oeste, com uma Bíblia na mochila – o único exemplar do Livro Sagrado ainda existente.

Eli deve esconder o Livro de Carnegie (Gary Oldman), que deseja usá-lo para sujeitar a humanidade ao seu poder – “como já aconteceu”, diz o vilão, a certa altura. Trava-se, então, a disputa entre salvação e dominação, por causa do intento de quem detém a Bíblia: a vontade de transmitir abertamente o conhecimento e ensinar palavras de conforto e transcendência, contra a intenção de escravizar quem não a conhece.




Os irmãos Hughes, realizadores do “Livro de Eli”, entretanto, escorregam ao sedimentar a história em superpoderes dos personagens. Eli ganha, com um facão, duelos contra gangues armadas. Não há nenhum recurso natural no Planeta, mas não falta munição pesada e combustível para os carros das gangues. Em um cenário onde a água é buscada em minas, essas situações soam irreais. “Acho difícil levar o filme a sério, pois a Bíblia dá apenas uma aura de espiritualidade que o filme não tem. O que interessou mais aos realizadores foi dar um show de violência e cenas com destrutividade”, pondera o psicanalista e crítico de cinema Luiz Gallego. “A ideia de se usar o poder da religião para a dominação da humanidade, por causa de um homem que quer o poder absoluto daria um bom enredo, se fosse desenvolvida”, acredita.

Ainda assim, é possível assistir ao filme “descontando” o exagero de efeitos e combates armados, e focar no conflito pelo Livro Sagrado. Como, por exemplo, nas cenas em que Eli ensina orações a Solara (Mila Kunis), que nunca ouvira falar da Bíblia. Quando ele recita o Salmo 22 (“O Senhor é meu Pastor, nada me faltará (...). Restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva (...). Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo”), pode-se pensar na força dessas palavras para quem enfrenta dificuldades, como no contexto da história. 







sábado, 15 de janeiro de 2011

Aprendendo a Mentir

Escrevi esse texto em 2005. Dei uma enxugada e aí está meu ponto de vista logo após chegar do cinema. 



 ‘Aprendendo a mentir’ (Liegen Lernen).
Alemanha/2003.
Diretor: Hendrik Handloegten. 
Elenco: Fabian Busch, Suzanne Bormann e Fritzi Haberlandt.
Roteiro de Hendrik Handloegten, baseado no romance de Frank Goosen.
Nota no IMDB: 6.8

Tenho gostado de produções contemporâneas alemãs  – como Adeus, Lênin e Edukators – e nem tanto de outras - Corra, Lola, Corra - e ‘Liegen Lernen’ mostra bom  fôlego durante sua hora e meia de exibição. A história acompanha os desdobramentos políticos e culturais na Alemanha a partir de 82, mas a condição de Berlim apenas serve de pano de fundo para a vida dos personagens. O protagonista Helmut, representado por Fabian Busch é um cara perdido. Ele se relaciona com Britta (Susanne Bormann), ainda na escola, mas ela logo o deixa para morar no EUA. A partir daí, foge de todos os compromissos, mesmo apaixonado, por causa da desilusão sofrida com Britta.

Eles se reencontram algumas vezes anos depois em Berlim, e o diretor cria formas  sutis para anunciar as mudanças ocorridas com cada um. Algo previsíveis, mas  bem encaixadas e desenvolvidas ao longo do roteiro. Um exemplo: desperta interesse o silêncio de Helmut, a forma como ele conquista e se comunica apenas com o olhar e um distraído sorriso.


Devido à ambientação, a história é cheia de referências ao momento histórico.  Reuniões de comitês estudantis, repressão familiar, duvida quanto aos destinos do novo país  – tudo isso está presente sem ser panfletário. Os maiores feitos do filme são seus recursos técnicos. É o desenvolvimento do roteiro, a narrativa concisa, os diálogos bem pontuados, a fotografia para destacar a subjetividade das cenas e as escolhas da trilha sonora - músicas dos anos 80, então há deslizes. 


Um desenvolvimento empolgante para um filme realizado com cuidado, que faz sair da sessão pensando nos rumos da própria vida. Até que ponto deixamos de experimentar porque limitamos nossas buscas ao que idealizamos? A fugacidade por escolha própria, o que podíamos ter vivido e, sobretudo, o que temos para viver.