terça-feira, 27 de março de 2012

A Árvore da Vida (2011)

The Tree of Life
Direção: Terence Malick
Elenco: Brad Pitt, Jessica Chastain, Sean Penn, Hunter McCracken
Escrito por: Terence Malick
EUA, 2011
Nota no IMdB: 7,0



"A Árvore da Vida" aborda, essencialmente, de maneira delicada e dedicada, o ato da criação e a perda da inocência. O autoritarismo de O´Brien (Pitt) na criação dos filhos, num subúrbio americano nos anos 1960 e as marcas desta criação em suas consciências. As pressões - principalmente sobre o mais velho - a frustração do pai com os próprios caminhos e a criação rígida das crianças. 



Terence Malick escreveu e dirigiu esta história que surpreende pelos intertítulos que carrega e pela beleza plástica das imagens abstratas. Há espaço para a gênese do universo, o movimento das marés, erupções vulcânicas, a vida marinha, a explosão das estrelas e muitas outras sequências impressionantes, entrecortadas por diálogos emblemáticos que contextualizam as metáforas e elipses aparentemente absurdas. 



Após permitir-se divagações que duram mais de 20 minutos, Malick volta à história da família, marcada por dramas e pressões. O diretor reforça a dimensão da descoberta da experiência em cada tomada, como nas sequências em que os pais apresentam a linguagem aos garotos ou seus primeiros atos de delinquência juvenil. 



A partir de valores religiosos, católicos, Malick aborda de modo suave a transcendência do ser e o amor universal, em cenas absolutamente reflexivas, que chamam lembram a duração ínfima do ser humano no planeta e seu tamanho insignificante em relação ao universo. Apesar disso, um universo complexo, representativo e único.



Malick escreveu uma bela história sobre o potencial do amor e a gravidade da existência e teve em mãos uma história bem perto de poder ser considerada uma das mais impressionantes em muito tempo. Pena que ela se prende, em vários momentos, ao ritmo arrastado que diminui a potência de suas cenas-chave, que evocam e ao mesmo tempo exasperam o espectador.



Os diálogos no lugar certo, a produção impecável e um argumento consistente colocaram um material raro nas mãos de Malick, que não conseguiu dosá-los da melhor maneira. Ainda assim, as escolhas não  prejudicam. Some-se a isso á atuação segura de Jessica Chastain e ao olhar impressionante de Hunter McCracken que interpreta Jack (Penn) quando criança. 



Cortes e flashbacks bem editados ajudam a compreender  em blocos a história, enquanto um dos protagonistas, anos depois, relembra pontos da infância e etapas de seu crescimento em família, evocando o pai centralizador, a mãe conciliadora e os irmãos, também descobridores enquanto autores da própria existência. 



"A Árvore da Vida" tem repertório para figurar entre os grandes filmes da década, mas é prejudicado pelo excesso de preciosismo dos realizadores. Impressiona, mas cai em um anticlímax constante. Vale, ainda, uma menção honrosa para os últimos minutos, reveladores sobre a condição humana e sua relação com o universo e o eterno. Uma mensagem de esperança, enfim. 


sexta-feira, 23 de março de 2012

Drive (2011)

Drive
Direção: Nicolas Winding Refn
Elenco: Ryan Gosling, Carey Mullingan, Bryan Cranston, Kaden Leos Albert Brooks
Escrito por: Hossein Amini, baseado em livro de James Sallis
EUA, 2011
Nota no IMdB: 8,0



Se o Oscar 2012 premiou homenagens aos primórdios do cinema, a última edição de Cannes preferiu destacar  um cinema de gênero, numa espécie de filme b com estética dos anos 80/90. Melhor filme da mostra competitiva de 2011, "Drive" traz momentos distintos e igualmente perturbadores.



Ryan Gosling não tem nome: é apenas o 'driver' dublê de filmes de ação durante o dia e o 'driver' calculista e silencioso de gangues à noite. Vive em um ambiente seco, solitário e com ecos vintage, ajudados pela trilha de rock alternativo e por tomadas de uma Los Angeles sem glamour e áspera. É um filme de ação com pouca movimentação de fato e que se sustenta pelo contexto. A primeira metade diz respeito ao silêncio e aos olhares questionadores. Olhares pelo retrovisor, com um palito entre os dentes. 



Quando envolve-se com gangues de fato, o protagonista ganha ares de nonsense e protagoniza cenas de violência gratuita dignas de Tarantino. A ruptura na história causa um excesso premeditado, oposto aos movimentos de espera do início, que  fazem de "Drive" um filme provocador. 



A frieza do justiceiro em oposição ao homem entregue facilmente pela descoberta do sentimento pela vizinha Irene (Mulligan) provoca certas questões: ele se consumia em adrenalina porque precisava de atenção? Basta uma relação sincera e desinteressada para derrubar a barreira que o impede de conhecer a afetividade? Seu relacionamento com Benicio (Leos), filho de Irene, pode responder a isto. Seu instinto de proteção e afeto atinge este momento, numa superação do egoísmo que o cerca. Ainda assim, o roteiro traz clichês básicos que impedem "Drive" de ser um grande filme de fato. 



Apesar da violência gratuita que interrompe uma estética impecável, "Drive" é uma incursão bem-sucedida  (e a primeira) de Winding Refn no cinema comercial. É também um filme para consagrar Ryan Gosling, que surgiu no mercado em comédias românticas e blockbusters de ação. Ele definitivamente ganha o público como o motorista alucinado que usa a mesma jaqueta branca com um escorpião dourado nas costas - que vai se sujando de graxa e sangue ao longo da história, sem que isso o incomode em algum momento. 









domingo, 11 de março de 2012

Millenium - O Homem que Não Amava as Mulheres (2011)

Millenium - O Homem que Não Amava as Mulheres (The Girl with the Dragon Tatoo)
Direção: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stelan Skarsgard, Robin Wright
Escrito por: Steven Zaillan, baseado em livro de Stieg Larsson
EUA, 2011
Nota no IMdB: 8.0






Adaptações de best sellers para o cinema costumam criar polêmicas, principalmente se o livro em questão for recente. Sempre aparecerá alguém para criticar a adaptação da narrativa - além da escolha comercial de uma obra que vive o sucesso no mercado editorial. 





Mas "O homem que não amava as mulheres", visão do diretor David Fincher (A Rede Social) para o primeiro livro da trilogia de espionagem Millenium, foge das soluções rasas. Escrita pelo jornalista sueco Stieg Larsson  - que morreu em 2004 pouco depois de entregar os originais aos editores - a história já havia ganhado uma adaptação aclamada pela crítica em seu país, em 2009, ainda mais sombria. O que faz uma série literária receber duas versões para o cinema em tão pouco tempo - ambas elogiadas?



O envolvimento da hacker Lisbeth Salander (Mara) em uma intriga de espionagem é o mote deste suspense, que evita sustos fáceis. O jornalista Mikael Blomkwist (Craig) é processado por uma série de reportagens e acaba se envolvendo em um mistério no seio da família Vanfer, com membros reclusos, anti-semitas e que ainda buscam solução para a morte de uma garota do clã, ocorrida nos anos 1960. Craig investiga traumas do passado dos Vanger, enquanto Salander, de modos hostis, precisa encontrar meios para se sustentar sem o antigo tutor. Nada se sabe sobre sua família ou passado, mas sua frieza e androginia dão a dimensão de traumas sofridos. Os piercings e tatuagens que deixa à mostra contrastam com a discrição das maneiras que ela pretende transmitir. 



A fotografia cria a atmosfera do inverno sueco, com ventos cortantes e dias pouco iluminados. O trabalho detalhista da montagem é um aliado dos efeitos pretendidos por Fincher, reconhecido por dosar mistério e ação - como em Clube da Luta (1999) e Seven (1995). 



Salander, no entanto, encarna uma espécie de Magayver com uma tatuagem de dragão, vingadora capaz de ações inverossímeis em uma história que se revela sóbria durante quase todo o tempo. A polêmica cena de abuso sexual, totalmente desnecessária, ainda foi amenizada em relação à versão sueca. É claro que provoca a repulsa desejada, mas exagera na exploração explícita do conteúdo.



"O homem que não amava as mulheres" (ou a mulher que não amava os homens) é um thriller psicológico para agradar admiradores do gênero e manter as vendas dos livros em alta. Resta saber a escolha da equipe técnica para manter o padrão nas indefectíveis sequências.