segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um Novo Despertar

Um Novo Despertar (The Beaver)
Direção: Jodie Foster
Elenco: Jodie Foster, Mel Gibson, Anton Yelchin, Jennifer Lawrence, Riley Thomas Stewart
Escrito por: Kyle Killen
EUA, 2011
Nota no IMdB: 7.0




A atriz Jodie Foster mostra autoridade no segundo filme como diretora. "Um Novo Despertar" traz Mel Gibson no papel de Walter Black, um executivo em crise no trabalho e que vê a família desmoronar por não conseguir se comunicar com a mulher e os filhos. Em depressão, passa a usar um fantoche de pelúcia para voltar a ter contato com o mundo e superar traumas. Mais tarde, enfrenta o problema do espaço que esta solução passa a ocupar em sua vida.

Mel Gibson, vencedor do Oscar por "Coração Valente" (1995), tem talvez em "Um Novo Despertar" a atuação mais firme da carreira. Domina e convence no papel, ao tratar sobre a falta de comunicação familiar e sobre problemas comportamentais. Em uma época em que frequenta mais páginas policiais que propriamente as de cinema - acusado de violência doméstica e por dirigir embriagado -, Gibson cumpre a tarefa de levar ao público uma história convincente.




"Mentes que Brilham" (Little Man Tate, 1991), estreia de Foster como diretora, já trazia questões familiares no enredo. Em "Um Novo Despertar" ela alcança um olhar profundo mas bastante leve, ao não apresentar soluções mágicas nem respostas diluídas em sentimentalismos. Roteiro preciso de Kyle Killen para a condução de Foster, que vive ainda Meredith Black, a paciente esposa de Gibson.

O enredo paralelo entre Porter Black (Anton Yelchin), filho do casal protagonista, e Norah (Jennifer Lawrence) também dá fôlego à história. Ao tratar ainda da dificuldade de comunicação, mas em outra vertente, os dois tocam em conceitos como inspiração/criação e apresentam um novo trunfo da diretora.




Fracasso de bilheteria nos EUA por influência das denúncias contra Gibson, "Um Novo Despertar" estreou rápido no Brasil após ser exibido fora de competição em Cannes. Uma escolha certeira para quem gosta de dramas sobre transtornos psíquicos e relações familiares.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Mary & Max: Uma Amizade Diferente

Mary & MAx: Uma Amizade Diferente (Mary and Max) 
Direção: Adam Elliot
Elenco: vozes de Philip Seymour Hoffman, Toni Collete e Eric Bana
Escrito por: Adam Elliot
França, Austrália, 2009
Nota no IMdB: 8.2




"Acho os humanos interessantes, mas tenho problemas para compreendê-los" - Max Jerry Horowitz


A amizade verdadeira acontece em situações improváveis: uma criança australiana envia uma carta com perguntas para um endereço aleatório e recebe resposta do destinatário misterioso: um americano de meia-idade. Em comum, a solidão. Mary não recebe atenção do pai, ocupado com a taxidermia, nem da mãe, distante da filha e próxima do álcool. A curiosidade dos primeiros oito anos de vida instiga a mente da menina, bastante madura para a idade. Max vive em um apartamento em Nova York, conversa esporadicamente com uma vizinha idosa e só convive com o peixe que cria. Viciado em chocolate, também tem compulsão por qualquer outra comida e sofre com o constante ganho de peso. Ele convive com a Síndrome de Asperger, que provoca crises de ansiedade a qualquer situação corriqueira que fuja ao seu planejamento metódico do cotidiano.

A sinopse já despertaria o interesse pela história, mas um outro fator aumenta a curiosidade pelo resultado: ao invés de atores, estamos diante de uma animação com conteúdo adulto. Philip Seymour Hoffman dá voz ao protagonista, Max Jerry Horowitz, enquanto Bethany Withmore e Toni Collete interpretam Mary Daisy Dinkle da infância à idade adulta. Os personagens são feitos com bonecos de massinha e os movimentos sofisticados e a riqueza de detalhes nas expressões demonstram o apuro da equipe realizadora, conduzida pelo diretor e roteirista Adam Elliot, que trabalha com simplicidade e dispensa exageros tanto no conteúdo quanto na forma.  






Construído em tons de cinza e marrom - somente - o longa carrega um espírito melancólico, condizente com os sentimentos dos personagens. Distantes da família dentro de casa e de todos em uma metrópole, respectivamente, Mary e Max só encontram correspondência em alguém distante, inserido em outra realidade e sentem, enfim, o sentido e o valor de uma amizade verdadeira e compartilham dúvidas e diferenças, mas nunca indiferença.   






Outra surpresa do roteiro é mostrar o crescimento dos personagens. Mary casa-se e inicia uma vida acadêmica para estudar a síndrome que acomete o amigo, que com o passar dos anos continua o mesmo, exceto pelo aumento dos medos e manias. Tão próximos sem nunca terem se visto, os dois trocam cartas e presentes ao longo da vida e reconhecem na sensibilidade e espontaneidade do outro os próprios sentimentos, antes desconhecidos em suas relações corriqueiras. 

Uma produção australiana de 2007 a que tive acesso pelo correio, como presente de uma amiga que nunca vi, apesar de nos conhecermos pelo que escrevemos. Muito pouco em comum com a história - mas ainda assim temos nossas questões - não é curioso?

ps: os tons de cinza são quebrados por elementos bem escolhidos na composição das cenas, como no pompom vermelho que Max usa na cabeça quando está bem humorado. 
pps: demorei para assistir e não consegui ver tudo de uma só vez, mas valeu ter esperado.
ppps: desenhos não costumam atrair minha atenção, mas este realmente me surpreendeu.