domingo, 22 de dezembro de 2013

Blue Jasmine (2013)

Blue Jasmine
Direção: Woody Allen
Elenco: Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Peter Sarsgaard
Escrito por: Woody Allen
EUA, 2013
Nota no IMdB: 7,7





Quem escreveu por aí que o sol de São Francisco fez muito bem para Woody Allen? "Blue Jasmine" está bem longe da qualidade vista na turnê europeia do diretor americano, o que não quer dizer que será facilmente esquecido. Provavelmente, apenas confundido daqui a algum tempo com outros filmes medianos de Allen.





Cate Blanchett é a nova rica apaixonada que assina todos os papeis para o marido milionário e, um dia, é obrigada a reconhecer que isso a fez perder tudo. Ela também é a filha pródiga que retorna para a casa da irmã por absoluta falta de meios e ainda luta contra a depressão. É o típico sujeito que quer construir para si uma imagem refinada, distante do kitsch familiar. 




Sally Hawkins é a irmã que se conformou com uma vida no limite para criar as crianças e que não deixa Jasmine se esquecer de onde veio. A reaproximação vai mostrar, no entanto, que ela ainda tem tempo e capacidade para fazer suas escolhas. Alec Baldwin, todos vão saber desde o início, é o golpista que usa o sistema financeiro para aperfeiçoar as ações. 




Uma construção que Allen conhece bem: quando a história atrai a curiosidade, corte para uma longa tomada no passado para entender como se chegou até ali. 1h38 com o domínio completo da câmera e do ritmo, apesar do momento sem muita inspiração. Nada mal para um diretor que produz incansavelmente ao menos um filme por ano desde 1981 - antes disso, só não lançou nada em 68, 70 e 74 desde sua estreia. 







quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Clube da Lua (2004)

Luna de Avellaneda
Direção: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Valeria Bertucelli, Eduardo Blanco, Mercedes Morán
Escrito por: Juan José Campanella, Fernando Castets, Juan Pablo Domenech
Argentina, 2004
Nota no IMdB:7,2



Luna de Avellaneda é o clube social onde a vizinhança se reunia desde os anos 1940 para momentos de diversão e esporte. É onde a memória coletiva se reconhecia e a memória afetiva dava sentido ao bairro e a seus frequentadores. 



Román (Darin) literalmente nasceu lá dentro, durante um dos bailes, e se orgulha de comandar o espaço nos anos 1990. Ele tenta despistar os efeitos da crise econômica que varre o país em nome da dignidade do clube e dos sócios, e se nega a permitir que o mercado possa falar mais forte que a tradição. 



Quando um ex-sócio e agora investidor propõe a transformação do velho clube em cassino, os filhos dos velhos fundadores se dividem entre o dinheiro que saldaria as dívidas e a manutenção do lugar que se transformou em suas melhores recordações.



Campanella e Castets, novamente, escalam Darín e Blanco como protagonistas, e tratam da sensação de pertencimento à comunidade, ou a sensação de "bons tempos", que é desgastada por crises do país. Com causas e efeitos da economia do país como plano de fundo, lida com um sentimento preciso - o afeto. Uma outra forma de dizer o que os mesmos Campanella, Castets, Darín e Blanco já haviam dito em "O Filho da Noiva", mas sem se repetir. 


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

El Mismo Amor, La Misma Lluvia (1999)

El Mismo Amor, La Misma Lluvia 
Direção: Juan José Campanella
Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Ulises Dumont, Eduardo Blanco
Escrito por: Juan José Campanella, Fernando Castets
Argentina, 1999
Nota no IMdB:7,1



Jorge e Laura se conhecem nos anos 1980 e vivem momentos de paixão, amizade e distância. Jorge é uma promessa da literatura que escreve contos para uma revista. Laura é garçonete e espera o namorado que viajou para o Uruguai e não manda notícias. Ela acredita mais em seus textos do que ele próprio, mas deixa de acreditar em Jorge como um todo ao descobrir uma traição. 



A relação que parecia ideal se deteriora e os obriga a lidar com suas escolhas. Ao longo de 20 anos, acompanhar Jorge e Laura é conhecer um pouco dos rumos do país, que sofre um golpe militar e a vive a reabertura. 



"El Mismo Amor, La Misma Lluvia", que aparentemente não foi traduzido no Brasil, foi filmado por Campanella antes de "Clube da Lua", "O Filho da Noiva" e "O Segredo dos Seus Olhos". Boa oportunidade para perceber como o diretor trabalha com noções de humor e drama que se repetem em personagens com forte empatia. 


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Não é Você, Sou Eu (2004)

No Sos Vos, Soy Yo 
Direção: Juan Taratuto
Elenco: Diego Peretti, Soledad Vilamil, Cecilia Dopazo
Escrito por: Juan Taratuto, Cecilia Dopazo
Argentina, 2004
Nota no IMdB: 6,7



Insatisfeita na Argentina, Maria vai para Miami e o namorado fica mais alguns dias em Buenos Aires para vender o carro, se desfazer do apartamento e pedir demissão. Aparentemente, ela desiste do plano enquanto ele se aproxima do aeroporto. 



O ciclo de descrédito que atinge os rejeitados. Uma nova maneira de lidar com os dias. Um psicólogo firme.  A graça de comprar ração no pet shop. 



Uma comédia romântica sem pretensão, pouco lembrada, provavelmente pouco marcante. E ainda assim mais romântica e divertida que uma estante inteira de pares brasileiros...


Elefante Branco (2012)

Elefante Blanco
Direção: Pablo Trapero
Elenco: Ricardo Darín, Jérémie Renier, Martina Gusman 
Escrito por: Alejandro Fadel, Martín Mauregui, Santiago Mitre, Pablo Trapero
Argentina, 2012
Nota no IMdB: 6,4


 Buenos Aires europeia? Pablo Trapero assina como a capital portenha pode ser mais perto do Brasil do que a geografia já diz. Uma favela, ou villa, formada em torno de um hospital abandonado. O convívio da população com o crime organizado, jovens entregues às drogas e Às armas, a falta de solução para os sem-casa e o trabalho de religiosos e voluntários que impede a degradação completa.



Darín é Julian, um padre que tenta afastar jovens do crime. Gumán é Luciana, a assistente social que luta por moradia. E Renier é Nicolás, jovem padre que chega da selva peruana e desafia regras locais para amenizar o sofrimento e vive o conflito entre vocação e prazer. 



Sem sensacionalismo com o drama alheio, "Elefante Branco" é o abandono da periferia e o trabalho idealista de quem se recusa a aceitar as misérias humana e do espírito. 


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Kamchatka (2002)

Kamchatka
Direção: Marcelo Piñeyro
Elenco: Ricardo Darín, Cecilia Roth, Héctor Alterio, Matías del Pozo, Tomás Fonzi, Milton de La Canal
Escrito por: Marcelo Figueras, Marcelo Piñeyro
Argentina, 2002
Nota no IMdB: 7,1

A capacidade que as ditaduras têm para obrigar quem pensa diferente à distância e ao esquecimento. Uma família foge para um sítio para fugir do golpe de 76. A narrativa construída a partir do olhar de um menino de 10 anos. Os meios de uma criança para lidar com o golpe: o escapismo de Houdini, que fugia de algemas debaixo d´água, a série de TV "Os Invasores" e o jogo TEG, ou War, onde a Kamchatka é o refúgio e a resistência. 





domingo, 4 de agosto de 2013

Jardim dos Prazeres (1925)

The Pleasure Garden
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco: Virgina Valli, Carmelita Geraghty, Miles Mander, John Stuart
Escrito por: Eliot Stannard, baseado em livro de Oliver Sandys 
Inglaterra, 1925
Nota no IMdB: 6,0




Para chegar aos filmes que o marcaram como mestre do suspense, o diretor inglês Alfred Hitchcock traçou um caminho pouco conhecido. Seu primeiro filme, "Jardim dos Prazeres" (1925), traz um quadrado amoroso com toques de comédia em uma narrativa que deixa de ser arrastada, por acaso, quando ganha em conflito e suspense.  

A estreia de Hitchcock no cinema abriu a mostra dedicada aos 54 filmes do diretor na noite de quarta-feira (31) em Belo Horizonte. E o público que lotou o Palácio das Artes compartilhou uma experiência rara: a execução da trilha sonora ao vivo durante o filme mudo.   

Coube à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, com regência do maestro Marcelo Ramos, a tarefa de preencher as cenas por 75 minutos com a trilha composta pelo britânico Daniel Patrick Cohen. Ele compôs a trilha em 2012 e esteve presente na abertura em BH.   





Na plateia, a surpresa era visível. Tinha gente com medo de se entregar ao naipe de cordas, metais e percussão e perder momentaneamente o que era exibido. Tinha gente impressionada com a exuberância daquilo enquanto se dava conta de que assim eram os primórdios do cinema. E ninguém conteve os aplausos ao final.   

Intencionalmente, a trilha não seguia marcações sincronizadas nas cenas, mas seguia o clima do que era exibido, deixando a história fluir. A execução impecável dos músicos dava a impressão de que o som saía de dentro do filme - sensação só quebrada pelo bumbo da bateria, que lembrava aos ouvidos que tudo ali era, sim, ao vivo.   

"Jardim dos Prazeres" recebeu um belo trabalho de digitalização do British Film Institute, que deixou as cenas sem ruídos, mas precisou alterar o esquema de cores durante o filme - há partes em sépia e outras em tons de azul.A mostra "Hitchcock é o Cinema", que marca a reabertura do Cine Humberto Mauro, tem sessões, debates e cursos gratuitos até o dia 5 de setembro. 



domingo, 7 de julho de 2013

Argo (2012)

Argo
Direção: Ben Affleck
Elenco: Ben Affleck, Brian Cranston, Alan Arkin, John Goodman, Clea Du Vall
Escrito por: Chris Terrio, baseado em artigos de Tony Mendez e Joshuah Bearman
EUA, 2012
Nota no IMdB: 7,9




Essa é a história do resgate de funcionários da embaixada dos EUA no Irã que se esconderam na casa do embaixador do Canadá após a invasão de insurgentes que fizeram 60 reféns. Sob supervisão de um agente secreto da CIA, se passam por produtores de cinema em busca de locações no deserto e conseguem burlar governo e exército por Teerã, inclusive no aeroporto, em 1980, dois anos depois da revolução. Surreal. 


Surreal e verdadeiro, segundo o depoimento do agente secreto cuja experiência inspirou Ben Affleck a dirigir e a  protagonizar esta história - Tony Mendez. Verdade também que os seis resgatados foram representados com grande semelhança física nas telas. E que, à parte alterações para não prejudicar o enredo, eles viveram o que foi retratado. Outro acerto de Affleck: a reprodução de cenas com rigor jornalístico. Um filme de espionagem no ritmo certo. 



Vale o Oscar de melhor filme ganho em 2013? Não. Mas o contexto político americano, envolto em novas disputas com o Irã, faz o prêmio ter sentido - ainda mais com Michelle Obama abrindo o envelope na noite de entrega do Oscar. Constrangedor até. Argo levou em outras duas categorias, -roteiro adaptado e edição.



A imprensa iraniana bateu muito no filme, por considerá-lo uma distorção da história e fazer propaganda contra o país. Até porque a crise dos reféns da embaixada- que foram libertados depois 444 dias, foi o estouro de uma situação financiada pelos EUA desde os anos 1950, por conta do apoio ao xá Reza Pahlevi, ditador que empurrou a influência ocidental para a cultura islâmica. 





sábado, 13 de abril de 2013

A Busca (2013)


A Busca
Direção: Luciano Moura
Elenco: Wagner Moura, Mariana Lima, Brás Antunes, Lima Duarte
Escrito por:Luciano Moura, Elena Soarez
Brasil, 2013
Nota no IMdB: 6,5



Pedro (Brás Antunes) tinha 15 anos quando preparou uma fuga de casa durante uma das infinitas brigas dos pais, Theo (Wagner Moura) e Branca (Mariana Lima). A falta de entendimento em casa, que ele também não vai cobrar, norteia suas escolhas por uma afinidade distante. 



O desespero do pai em sua busca, que pavimenta a história, dá boa medida de como acertar em um drama sem conflitos fora do lugar ou exageros sentimentais. Estética e narrativamente, a busca é também a descoberta de um homem ao seguir rastros do jovem pelo interior. 



O reconhecimento da individualidade e da noção de família e afeto nesta espécie de road-movie semi-urbano  bem realizado envolve premissas a princípio estranhas, mas bem tramadas e que dão uma noção de originalidade ao filme. Como reunir balsas, cavalos, travessias, lavouras, partos, borracharias, croquis e festivais hippies em uma única direção. 



sábado, 16 de fevereiro de 2013

A Hora Mais Escura (2012)

Zero Dark Thirty
Direção: Kathryn Bigelow
Elenco: Jessica Chastain, Jason Clarke, Kyle Chandler, Joe Edgerton, Chris Pratt
Escrito por: Mark Boal
EUA, 2012 
Nota no IMdB: 7.6




"A Hora Mais Escura" é a segunda visão da diretora Kathryn Bigelow sobre o terrorismo pós-11 de dezembro. Há dois anos, foi a primeira mulher a ganhar o Oscar de direção por "Guerra ao Terror", sobre a invasão ao Iraque. Com todas as credenciais possíveis, dessa vez, tratou da caçada a Osama Bin Laden, morto em 2011 em uma fortaleza em Abbotabad, no Paquistão. 



Acusado de defender a tortura durante interrogatórios de prisioneiros para obter informações sobre a Al Qaeda, "A Hora Mais Escura" se presta justamente ao contrário. Trata métodos de tortura como artifícios comuns à polícia secreta americana, a despeito do discurso de "liberdade" propagandeado pelos EUA. O que fica evidente na falta de conflitos morais dos agentes por violentarem presos e até reclamações quando os métodos são proibidos após pressões de parlamentares. A presença do exército americano até hoje no Oriente Médio prova como os métodos repugnantes não resolveram a questão. E surge a dúvida: o assassinato de outro povo é justificável? 



Com enredo sóbrio e sem recursos pirotécnicos que dão "glamour" a filmes de guerra, "A Hora Mais Escura" tem como protagonista a agente da CIA responsável por "caçar" Bin Laden durante dez anos. O cruzamento de informações, pistas falsas e a obsessão colocam Maya (Jessica Chastain) acima do próprio presidente Obama nas ações que levaram à morte do terrorista. Uma mulher que desafia os chefes na CIA para seguir instintos e chegar ao homem mais procurado do mundo - um papel incomum no imaginário dos serviços secretos e mesmo em filmes de guerra. Ainda mais quando se pensa que a mulher que inspirou a personagem ainda atua na agência e teve o perfil de durona e obsessiva confirmado por soldados que participaram da missão real. 



Se a captura de Osama realmente aconteceu da forma como foi filmada, representou uma sucessão de eventos quase inacreditáveis. O terrorista mais procurado do mundo ficaria recluso em uma mansão, perto de um centro comercial, por muito tempo; nem tentou oferecer resistência nem tinha meios para tentar fugir; se a fortaleza era à prova de investigação, também deveria ser um labirinto para possibilitar fugas.



A CIA fornecer informações privilegiadas à cineasta e ao roteirista Mark Boal torna o peso político de "A Hora Mais Escura" ainda maior, dada a importância que recebeu como instrumento de propaganda pelo governo americano. Justamente por isso, as críticas que recebeu de parlamentares e do Pentágono praticamente tiraram suas chances de ser o grande favorito do Oscar 2013 - concorre em cinco categorias.




Apesar de abordar uma história amplamente conhecida, o filme se sustenta em 157 minutos sem cair em clichês. Bem diferente do arrastado e previsível Lincoln, de Steven Spielberg, que por razões não-estéticas pode levar estatuetas que cairiam melhor nas mãos de Bigelow. 


                                 

domingo, 20 de janeiro de 2013

No (2012)

No
Direção: Pablo Larraín
Elenco: Gael Garcia Bernal, Alfredo Castro, Antonia Zegers 
Escrito por: Pedro Peirano, baseado em peça de Antonio Skármeta
Chile, 2012
Nota no IMdB: 7.8