sexta-feira, 27 de abril de 2012

Shame (2011)

Shame
Direção: Steve McQueen
Elenco: Michael Fassbender, Carey Mullingan, James Badge, Nicole Beharie
Escrito por:
EUA, 2011
Nota no IMdB: 7.6



Brandon (Fassbender) tem um olhar duro, frio e distante de qualquer afeto. Viciado em sexo, não conhece qualquer manifestação de carinho ou intimidade, ainda que se relacione de modo extremo com seu corpo e com as mulheres desconhecidas com quem se depara por um tempo breve e intenso.



Steve McQueen aposta em sequências carregadas de tensão, que exploram constantemente a nudez, tratada sem sensualidade ou paixão. Como um drogado dependente de substâncias químicas, ele encontra no sexo casual a realização transitória do prazer através de seu vício e suas expressões durante o ato sexual lembram antes o sofrimento e a ânsia por reforçar essa busca desenfreada que o prazer pelo contato com o feminino.



Este ciclo frio se rompe com a chegada da irmã, Sissy (Mullingan), que escancara conflitos e o faz lembrar, ainda que bem longe, alguma manifestação afetiva. A desordem que esta presença inesperada e contra sua vontade provoca alterações em seus padrões reflexivos e o abre a certa distinção entre vergonha, reconhecimento e busca desenfreada pelo prazer.



As marcas nos braços de Sissy apontam para sofrimentos extremos de ordem emocional, mas McQueen não precisa contextualizar o passado dos irmãos para construir seus transtornos de forma clara e convincente. A constatação de Brandon, apenas com olhares, antecipa um certo descrédito pela mudança. Uma frase da irmã, entretanto, aponta para alguma esperança. "Nós não somos maus, apenas viemos de um lugar confuso". A garota insegura traz a força escondida - que se manifesta, por exemplo, quando interpreta "New York, New York" com um andamento lento, sublime e marcante.



Quando tenta sair com uma colega de trabalho (Beharie), no primeiro encontro minimamente afetivo em sabe-se lá quanto tempo, o corpo de Brandon falha, num bloqueio de ordem emocional que o impede de associar o sexo a qualquer situação de carinho ou cumplicidade. O desperta apenas a adrenalina de casos fugazes e anônimos, ainda que busque inconscientemente o sofrimento físico ao provocar brigas na rua ou se dispor a experiências sexuais que não condizem com suas opções, em nome de satisfazer temporariamente um vício irrefreável. 



Há, contudo, a chama de uma esperança - o despertar para a condição de dependência, disparado pelo próprio reconhecimento em companhia da irmã, é sempre um primeiro passo para enfrentá-la, e não apenas se submeter.