quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cilada.com (2011)

Cilada.com 
Direção: José Alvarenga Jr.
Elenco: Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Carol Castro, Sérgio Loroza
Escrito por: Bruno Mazzeo, Rosana Ferrão
Brasil, 2011
Nota no ImDB: 7.3




Stand ups desmoralizaram shows de humor. A novidade deu lugar à saturação e hoje no Brasil qualquer um que se ache engraçado sobe de cara limpa num palco para tentar fazer graça. Situação análoga vive o humor no cinema nacional. Um seriado faz sucesso na TV e vira filme. E gera continuações. E, em geral, o filme não é tão engraçado porque parece apenas um episódio extendido.




É o caso de Cilada.com (2011). Assim como na tv, é protagonizado por Bruno Mazzeo. É mais um caso de trailer mais engraçado que o filme em si. O argumento funciona - Mazzeo cai em roubadas o tempo todo e sabe lidar com bom humor nessas situações. Mas as escolhas do roteiro são falhas e o que se desenrola na tela são situações desagradáveis. Usa-se o sexo para rir do pudor do outro, na típica situação que não teria a mínima graça se acontecesse com você. Há associações com drogas para tentar provar que a história não é careta. E há o clássico desrespeito à empregada doméstica e à prostituta que falam errado. 





Fernanda (Fernanda Paes Leme) é a namorada traída que, para se vingar do ex, divulga na internet um vídeo em que ele tem uma ejaculação precoce. Chacota no serviço, entre os amigos, entre desconhecidos na rua e até num programa de TV, Mazzeo podia viver uma comédia autêntica se os diálogos fossem mais bem trabalhados. As situações até ajudam - o filme que ele planeja para salvar a reputação perante os colegas, a carreira publicitária arruinada pela falta de criativdade - mas falta história, faltam diálogos, falta convencer. Mazzeo é corroteirista - deve realmente ter achado que o filme convenceria.





Filmes associados à Globo Filmes - em geral - dão a impressão de que foram gravados dentro de um shopping, tamanha a 'limpeza' criada nas cenas. A locação pode ser um quarto de classe média, uma favela, uma escola abandonada. A estética do lugar não vai ser muito diferente de uma loja com ar condicionado e luz artificial. Algumas novelas insistem em não sair do Leblon e criam caricaturas do 'resto' do mundo. Infelizmente, essa mania se consolida no cinema nacional e empobrece esteticamente os filmes. Os bons roteiros têm a liberdade narrativa podada e a direção de arte se resume à decoração de interiores. Não por acaso, são as produções com mais recursos financeiros e mais salas disponíveis pelo Brasil - a democratização do cinema no interior do país esbarra na novelização das películas. Uma pena. 95 minutos que poderiam ser resumidos em 20, transmitidos na tv a cabo e substituído na semana seguinte por outro episódio, mais inspirado. Grande cilada.



domingo, 17 de julho de 2011

Cisne Negro (2010)

Cisne Negro (Black Swan)
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Winona Rider
Escrito por: Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin
EUA, 2010
Nota no IMDb: 8.3



O limite entre delírio, ficção, realidade e verossimilhança. O balé do "Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky, é o condutor da história de Nina (Natalie Portman) - em atuação consagrada pelo Oscar de Melhor Atriz em 2011, uma bailarina acossada por medos e pressões. Nina divide-se entre os ensaios exaustivos na companhia e a sufocante presença da mãe, ex-bailarina que intromete-se de todas as formas na intimidade da filha. A chance de se tornar a solista da companhia, justamente na montagem do "Lago dos Cisnes", desencadeia conflitos na personalidade de Nina, que associa trechos da própria história aos acontecimentos do texto de Tchaikovsky.


Na história, uma mulher é aprisionada no corpo de um cisne branco, análogo à leveza e à pureza, e precisa do amor de um príncipe para libertar-se deste corpo. Mas a irmã gêmea, retida no corpo de um cisne negro - representando a agressividade e o destempero, ganha o amor do príncipe. O cisne branco, dominado na competição pelo desespero e entregue à inveja da irmã, escolhe a fuga para libertar a alma pura do corpo corrompido.



Nina é sensível, moderada e dedica todo o tempo aos ensaios. Reconhecida pela leveza e perfeito controle dos movimentos, vive ela própria um cisne branco, um desejo contido em uma figura domesticada. Desafiada a encarnar ambos personagens, precisa descobrir as próprias vontades escondidas para entregar-se à performance do cisne negro. Quando isso acontece, desencadeia sentimentos e posturas que não sabia possuir.



Somando-se a isto, Nina enfrenta um quadro de ansiedade - refletido no hábito de coçar as costas a ponto de machucar-se - que desencadeia sensações de perseguição. No metrô, não raro, acredita estar sob olhares amedrontadores. Quando perde o controle sobre o raciocínio, enxerga figuras do balé distorcidas e pensa ser atacada. Vive em sonhos os desejos contidos no cotidiano e confunde esta libertação imaginada com a própria vida. Em última instância, já não distingue sonho, desejo e realidade. Personagens duais fundem-se em sua própria dualidade, e na perda do contato com o real, os ensaios são o único fio que ainda a ligam à razão. 



Dirigido por Darren Aronofsky (de "Réquiem para um Sonho" (2000) e "O Lutador" (2008)), Cisne Negro emocionou plateias no mundo todo ao revelar o paradoxo entre leveza e agressividade de um balé clássico. Uma história fartamente conhecida por gerações, já tratada em diversos matizes, ganha uma montagem exuberante ao trazer para o centro temas sempre presentes, mas por vezes coadjuvantes. Valeu o Oscar de Natalie Portman, pela suavidade/agressividade dos movimentos e olhar nunca tranquilo.